JULHO
na verdade estamos fartos
quase mortos
nessa casa de tantos quartos
poucos portos
tantos quadros
tanta roupa
e a pele cansada
tão pouca
vens trazendo o frio
vens tangendo o tremor
a se instalar nos dentes
chega e pousa o arrepio
tantas janelas
tantas passagens
e o céu que lá fora se estende
aqui se intimida perante a chama das velas
na verdade estamos fracos
quiçá incuráveis
nessa casa de vidros opacos
de aposentos insondáveis
tantas taças
tanta louça
tanta faiança partindo
e ninguém que a ouça
vens conduzindo a neblina
vens galopando o torpor
a se alastrar pelos nervos
a congelar as retinas