ÚNICO MOMENTO

Tudo aconteceu assim, de repente,
num momento único.
Aconteceu o que poderia ter acontecido
numa vida inteira.
Esgotou-se ali, num assombro.
Ninguém haverá de chorar a desilusão
das noites de espera,
nem o murchar das rosas esquecidas
no vaso enfeitado com o cartão
da dedicatória do Amor Eterno.
Não haverá lágrimas
borrando os versos apaixonados
e mal rabiscados num guardanapo de bar.
O luar não acontecerá.
Não haverá a dor de ser deixado.
A mão hesitará ao toque insistente
do telefone.
Mas não abrirá a carta reconhecida,
que sempre trouxe o perfume adocicado
da flor de laranjeira.
Prenúncio de primavera.
Não haverá primavera, nem verão.
O tempo não existirá.
O espaço terá sido em vão.
Tudo porque o amor foi demais intenso
num único momento.
E morreu.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 15/03/2012
Reeditado em 25/07/2014
Código do texto: T3556871
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