Silêncios de gritos escondidos
Algumas vezes ouço zunidos de mosquitos
preces intermitentes de repetições vagas
apitos irritantes de decibéis amaldiçoados.
Atritos comoventes como micoses na virilha
pousos forçados de viagens malsucedidas
pedidos incessantes de esmolas encarecidas
estralido de chicote em mãos embrutecidas.
Estrondo de barragens estouradas
espinha de peixe cortando a gengiva.
Algumas vezes falo
silêncios de gritos escondidos
escárnios de autópsias íntimas
ritmos de músicas não compostas
compostos de fragmentos que não se aplicam
profundezas de ralos envelhecidos
velhices ternas de múltiplos homicídios
suturas de órgãos perfurados
alegrias de homens que não nasceram,
alegrias de homens que não viram a morte.
E sobretudo penso
das circunstâncias que me valem
e das escolhas em que minhas ações pesem
Em tudo quero ser consciente, exceto,
do momento em que me julgarem livre.