Santa Cruz
Se a vida é uma escola, faculdade é a favela.
Nasci, cresci me fiz homem nela.
Um barraco em 3/4. Uma lona o telhado.
Esgoto a céu aberto, nada de bom por perto.
Fumaça na janela, muito louco só de tabela.
Domingo de sol.
To ligeiro, pronto pro futebol.
Vejo Diogo, Mateus e o Vá.
Avisa os caras que já já eu colo lá.
O percurso é longo e tenebroso.
Pra vencer é cabuloso.
Portas se fecham sem nenhuma brecha.
De longe sinto o odor do preconceito.
Mas ser favelado não é defeito.
E o maluco diplomado se acha o invencivel.
O intelectualizado.
Mas não vacila se não passo por cima mal tendo estudado.
Pego seu curriculo pra rascunhar.
Escrever as minhas letras e rimar.
Pouco importa sua estirpe.
Não dou ibope pra patife.
Lado a lado com os parceiros,
na miséria ou com dinheiro.
Céu escuro. É chuva na certa.
Coração acelera, favela em alerta.
Amadurecimento precoce.
Guarda teu coração, ele é teu cofre.
Disciplina e respeito é o caminho,
ninguém vence sozinho.
Aos que tropeçaram mas permanecem firmes.
Aos que cairam e não tem forças pra levantar.
Pros que entraram e acham que não tem mais volta.
É só acreditar, Deus é a nossa escolta.
Cheio de problemas, inundada de defeitos.
Santa Cruz, favela.
Me orgulho de ter feito parte dela.