DRAGÃO SENTIMENTAL

O poeta se descreve sempre como audaz cavaleiro,

Que guerreia em busca de uma princesa encantada.

Veste forte armadura, empunha reluzente espada,

E em seu cavalo de longas crinas, parte aventureiro.

Disposto a digladiar com mil dragões e fazer fama,

Sob gritos de vivas e festejos dos súditos em clamor,

O pobre poeta, revestido de ilusório anseio vingador,

Devaneia em labirintos e, platonicamente, se inflama.

Sua doce amada cavalga ao seu lado, e ele silencia,

Alucinado sonha, carente padece, submisso chora,

Apaixonado suporta, descrente finge-se confiante.

Apesar de se expor sem escudo, seu amor denuncia.

Pretende ser fiel herói de sua princesa, e a namora.

O poeta embriaga-se à luz daquele olhar cativante.

Destemido e audacioso seu segredo maior evidencia,

Porém lhe infiltra no peito a mesma fobia de outrora.

E para aplacar sua fúria, desafia os deuses, arrogante.

Insolente, arranca da pena e descreve os seus desejos adversos.

Arrebenta as correntes da alma, e livre, confessa o seu desatino.

Enfrentará seu terrível dragão íntimo, por um amor derradeiro.

Mas, anonimamente, o poeta se esconde atrás de torpes versos.

Como um perjuro, abdica de sua felicidade, foge de seu destino.

Afoga os sonhos dourados, nas lágrimas cálidas, ao travesseiro.