Ania (com carinho)

Te encontrar

Entre tantas palavras de acalanto

Neste silêncio negro do meu teclado

Do teu segredo

Espiando teus olhos

Como quem olha o céu procurando a lua

E só acha uma estrela tão brilhante

Como devem ser os olhos de Ania

E pressente dentro da noite

Estrelinhas quebradiças dançando na sua rua

Quem é

Ania?

A voz do anjo que me fala as coisas mais bonitas

As coisas encantadas

A pipilar no coração da gente

Meu dia te procurou

O mais desnudo dos meus dias te procurou

Vertendo luzes andarilhas

Nos caminhos que desconheço

Revirando flores

Enovelando ventos

Interpretando os suspiros que corriam para o mar

verde azul demorado

Olhando as frestas das portas entreabertas

Por estas mãos macias a escutar

E a apagar os meus passos malbaratados

Sem métrica

Sem rima

Poemas inacabados

Poemas mortos

Olhos de um anjo dormindo no teu sonho

A triste sina de ser poeta

E não encontrar a palavra que se escreve com a tule das nuvens

Não encontrar o gesto entre o nevoeiro na noite funda e sozinha

Na noite que abraça o mundo

E faz os girassóis dormirem em teu quarto, Ania

Não te encontrei neste luar antigo

Nem nesta noite menina

Criança

Que cresceu, escura, em volta destas estrelinhas tirante à azuis

Acho que tu te pareces com as cantigas de ninar

Canta, Ania, uma cantiga pra mim

Só pra eu confirmar, quase adormecido,

que é tua a voz que me põe a dormir todas as noites

cantando lendas de príncipes e princesas do reino das poesias falantes

Ania, tuas palavras me entrelaçaram

Fitas azuis e calmas

Felizes

Como este teu jeito encantador de dizer que sou poeta

Poeta...

Folheio tuas palavras,

Releio

Procuro um sentido

Uma finalidade

Poeta...

O que será que você quis dizer com isto?

Poeta é azul

Como as fitas calmas

Assim como são rubros e doces os teus lábios, Ania

(...)

A noite tem som de folhas secas

Já há estrelas a fremir de sono

A lua, idolente, diz poesias a perambular

(...)

Que bom, Ania,

que você veio.