[Umbral: O Rabisco Esquecido]

[Eu deveria ter deixado este pretensioso rabisco na escrivaninha de Augusto dos Anjos, mas não tive tempo: eu estava ocupado demais, e só pude nascer 35 anos depois...]

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De pé, parado à porta da rua,

eu firmo as mãos na rústica verga,

cerro os olhos, solto a imaginação...

Sinto o vento que sopra

das ruínas do mundo em volta,

e dos velhos sonhos desfeitos...

O meu passado se amontoa na mente —

taipas quebradas, madeiras apodrecidas,

portas com as dobradiças travadas

pela ferrugem de tantos anos —

esta casa há de cair sobre mim!

Aperto ainda mais a minha mão

na verga da porta, e num impulso,

lanço meu corpo, mas contenho

o ímpeto de adentrar de vez.

Olho-me, olho as minhas mãos,

e num hausto longo, longo,

respiro a minha vida inteira...

Gostava de concluir [e reconcluir] que ninguém me suporta...

Tomara não haja alguém a me contrariar,

pois, para mim,

o nada coa-se do momento que se vai...

De que vale pensar em razões,

vaguear por incertos sentidos,

e até duvidar de estar vivo?

De que vale adiar a festa dos vermes?

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[Penas do Desterro, 23 de janeiro de 1999.]

Excerto do meu Caderno 2

[Revisitado em 09/mar/2012]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 09/03/2012
Reeditado em 27/03/2012
Código do texto: T3544889
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