Enquanto o meu corpo é esfarelado pelo tempo,
em um não-tempo, a minha alma me devora.
É um sempre cedo ou muito tarde,
enredo imperfeito de um traço avesso
em torno da palavra vida.
A minha mente, intérprete louca do
abismo inconsciente,
instala em meus anseios
tantas quimeras!
Mas eu só quero embriagar-me do que não é dor!
De um não saber, férias da razão,
nem que seja um pouquinho só,
suficiente apenas para eu continuar a viver em flor.


                              
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Comentário do Jô:
     Versos ao desamparo.  Nenhum milagre à vista, entretanto.
     Alma que, atingida brutalmente pelas coisas e o tempo, protesta por escrito.
     Originalidade.  Exposição íntima.  Confissões indisfarçáveis.   E porque construído com metáforas -  símbolos feitos linguagem - o poema se alçou acima dos destroços do seu espírito, da sua manhã horrenda, e permanece iluminando as suas, as nossas misérias.  Porque delírio escrito, nos incomoda tanto.

     ...Aproveito o momento para mandar-lhe um recado:

     Lady, para mim tu és: tormento, felicidade, perdição, bonomia, esperança, loucura, amálgama, voo, pouso, terra, sal, mel, céu azul, verde chão, mar para sempre, bonança, bagunça, arrumação, corva, gárgula, anjo, silêncio, canto, rosa...  Logo, continua discreta, laboriosa, amiga, solidária, loquaz...  



Enviado por Jô do Recanto das Letras em 08/03/2012
Reeditado em 04/11/2012
Código do texto: T3543422
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