A moça sonhadora e a antimatéria
No coração daquela moça comum
pulsava alguma misteriosa antimatéria.
Sonhava como todas as moças de sua época
Mas o pai bradava, a mãe sondava em vigília.
Ela não queria casar, ainda que houvesse paixão.
Não queria ser mãe, mas geraria filhos e filhas.
Não queria ser senhora do lar,
porém desejava respeito ao seu canto.
Não aspirava ser santa,
entretanto sentia em si o sagrado.
Seus sonhos eram, muitos diriam, diferentes em demasia.
Eram sonhos de liberdade e de beleza para todos.
Mas como assim, ela não queria ser fada ou princesa?
Ela foi muitas outras moças, muitas outras mulheres.
Seus quadros estão nas galerias, seus livros nas cabeceiras.
Seus discursos inflamaram outras moças, outras mulheres.
Aquela moça espelhava nos olhos alguma antimatéria
perigosa que a monotonia das coisas não subverteria.
No seu sonho sem dogmas, o amor, o abraço, o sorriso
e o aperto de mão seriam sempre profundos.
O coração daquela moça podia mover o mundo,
pois no seu sonho alguma antimatéria
bela e livre em todos nascia.