Caminhos           

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                      Meus primeiros caminhos foram líquidos. Meus veículos foram barcos. Os primeiros cruzaram rios; os segundos cruzaram mares. Há séculos navegados. A margem dos rios – florestas; a margem dos mares – cidades.
                      Na correnteza dos rios, na profundeza dos mares – afogados. Ora cantos de sereias; ora lamentos – naufragados. A superfície dos rios – espelhada; a superfície dos mares – ondulada. Um refletindo a tua face; o outro, os meneios de teu corpo.
                      Toda vez que chegava – tu partias; toda vez que partias – eu chegava. No desencontro das viagens, caminhos diversos tomamos. Eu recolhi-me em mim mesmo; tu, quem sabe onde andarás?
                                
                                                          2 
                      
                      Para chegar às estradas, rios e mares naveguei. Depois tomei um trem, troquei depois por um carro, finalmente troquei todos por meus pés. Descalço ou calçado muitos caminhos percorri. Passei por ricas fazendas – ouvi mugidos, relinchos escutei; passei por pobres casebres – ouvi choros e gemidos, também alegres despertares. Ora as estradas subiam; ora os caminhos desciam. Assim, não sei se chegavas; assim, não sei se partias – sei que iam; sei que me levavam. Para onde? Para onde não estavas.
                         
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                   Também viajei pelos ares, entre cirros, cúmulus, e nimbos; rios e mares; montes e estradas sobrevoei. Pelas vigias das naves todos os chãos espiei. Em nenhum deles te avistei. Sereia ou lorelay.

 
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 07/03/2012
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