Redemoinho

É dia de feira

O pastel cheira pela esquina

Os meninos andam de pé descalço

“Me dá um, tio’

essa frase risca meus ouvidos...

“Põe o alpercata, menino

Pode pegar verme...”

Essa vida é cheia de lumbriga!

Ainda me lembro

Do rio, de Filó lavando roupa

E xingando tudo quanto é bicho

Que passava, até gente

Que é mais bicho que bicho

E essa gente do bar

Que bebe tanto

Cachaça da boa, temperada de erva-doce...

Cospe no chão

Não nega o santo

Que espreita a todos,

É olho de cão

Que bebe um pouco de cada um...

E a terra gira verde

Amarela, encantada, como se fosse ainda criança

Que ainda não soubesse de nada.

Colorida de tanto esquecimento....

“o que mais quero é não lembrar”

- Vai estudar meu filho

Pra ser gente na vida!

Quero que seja um doutor

Que ninguém saiba do seu nome

Do seu endereço, da coceira no pé

Do bicho de porco

Da fome de amor, que nada mata nesse mundo

Só se eu for doutor né, mãe!

-é.. é isso mesmo...vamos matar essa gente de inveja...

filó é tão certeira

xinga mesmo,

E a roupa fica tão limpa com sua brabeza.

como o céu dessas manhãs

de janeiro, de sol tão forte

e corajoso, de esperanças infinitas

que saudades de filó

que espantava do mundo

tudo quanto é feiura...

Menino nojento, vem cá!

Oh moço, dá mais um pastel...

E não coma de boca aberta...

a vida é um redemoinho