Sou a bebê morta
Escrever é inspirar monóxido de carbono
e aroma de brigadeiro,
idéias,
uma antiga paixão,
algumas palavras esquecidas que saltam do lápis
e até assustam os olhos sobre o caderno.
Escrever é encurvar a coluna,
é marcar de nanquim cada vértebra,
é marcar com uma lágrima cada verso,
é encontrar o avesso do contrário e o
improvável, tão palpável agora.
Escrever é nunca esquecer uma miudeza,
uma bugiganga em uma caixinha velha,
é não permitir que o eu futuro subestime o
eu presente,
permitindo olhar o eu passado e reconhecer:
EU.
Escrever é a libertinagem,
escrevo as fraquezas e as escrevo bem forte,
nunca serão apagadas.
Escrever é um fim em si mesmo,
e quando se acabam as sentenças não
há como forçar:
da mesma maneira do amor e da morte,
o ponto final intransponível.
Alheio a nós mesmos.
Como só pode ser nosso eu mais profundo.