Poética Pontuada
As reticências...
têm seu charme. Veja!
Deixam o pensamento suspenso no ar... Joaninhas voando.
Gosto muito de usá-las.
Permitem que as coisas ditas
tenham continuações subjetivas.
Fica aquilo assim... o dito pelo não dito,
se ditas, impensadas ou pensadas de diferentes formas
por cada um que Lê.
As aspas parecem grades que prendem...
Não quem rouba o pão e sim o próprio fruto do furto,
as palavras roubadas.
Lembram-me
“algemas”.
A interrogação é charmosa.
Parece uma orelha com brinco, já ensinava a professora.
É dúvida. O princípio do conhecimento.
É a mola mestra das mudanças.
Quem não interroga transforma?
Sem ela é sempre mesmice.
A exclamação, gosto de usar!
Estou sempre exclamando.
Sou um contínuo admirador.
Se eu fosse pintar a exclamação lhe pintaria de prata
(a interrogação de dourado).
O travessão parece uma espinha de peixe.
Não simpatizo muito pelo seu irmão, o hífen.
Ele é complicado. Ambos.
Quando usá-lo ou não usá-lo?
“Sei – lá!”
Parece que está constantemente causando separação.
Parece não, está!
Comple-
xo (e não amplexo).
Os parênteses estão sempre prontos a esclarecer.
Estes sim!
Juntam às ideias principais,
iluminando-as,
dizeres que ficaram mudos.
O Ponto a tudo põe fim.
Deixa um gosto
ora de quero mais,
ora de até que enfim acabou.
Ponto final.
L.L. Bcena, 06/08/2000
POEMA 747 – CADERNO DOS ANJOS.