Patuá azul

Quando deixei o sertão de minhas raízes

um pequeno pedaço trouxe comigo.

No esconso segredo costurei feito patuá

escudo para dores pungentes do espírito.

Era amuleto que carregava junto ao meu peito

retalho reminiscente já roto e descolorido.

Certa manhã ao desembrulhar o pequeno pacote

dei-me conta de que esse meu escapulário

nunca passou de transitório delírio.

Pensando estar vivo, sobrevivia sem sentido

Morador misantrópico de uma caixinha de vidro.

Insolente pensava ser possível aprisionar

esse pedaço do tempo em um altar profano

ou nas páginas amareladas de um livro.

Fiz-me espontaneamente dócil e submisso

Dos grilhões que forjei mantendo-me cativo.

Não poderia colher minutos-segundos de sol

desse presente amarrado com laço antigo.

Um urro inaudito das minhas entranhas soltei

Suplicando de volta um futuro ainda não havido.

Corri para o meio da rua e o dia estava azul

Pasmei, o céu era mesmo azul, o azul infinito.

Abracei-me àquele sol que a tudo coloria

E ameno soprou-me um vento de velejar

Para frente olhei com confiante sorriso.

Gilberto Ricardi
Enviado por Gilberto Ricardi em 05/03/2012
Reeditado em 17/10/2012
Código do texto: T3537222
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.