Patuá azul
Quando deixei o sertão de minhas raízes
um pequeno pedaço trouxe comigo.
No esconso segredo costurei feito patuá
escudo para dores pungentes do espírito.
Era amuleto que carregava junto ao meu peito
retalho reminiscente já roto e descolorido.
Certa manhã ao desembrulhar o pequeno pacote
dei-me conta de que esse meu escapulário
nunca passou de transitório delírio.
Pensando estar vivo, sobrevivia sem sentido
Morador misantrópico de uma caixinha de vidro.
Insolente pensava ser possível aprisionar
esse pedaço do tempo em um altar profano
ou nas páginas amareladas de um livro.
Fiz-me espontaneamente dócil e submisso
Dos grilhões que forjei mantendo-me cativo.
Não poderia colher minutos-segundos de sol
desse presente amarrado com laço antigo.
Um urro inaudito das minhas entranhas soltei
Suplicando de volta um futuro ainda não havido.
Corri para o meio da rua e o dia estava azul
Pasmei, o céu era mesmo azul, o azul infinito.
Abracei-me àquele sol que a tudo coloria
E ameno soprou-me um vento de velejar
Para frente olhei com confiante sorriso.