VIDAS
GILBERTO BRAZ ALMEIDA
Vidas feitas de migalhas
levadas pela brisa como se fossem palhas
soltas pelo mundo sem sandálias.
Vidas infrutíferas e vagantes,
como a luz que vai ao longe num instante,
deixam rastros porque são andantes.
Vidas cobertas de farrapos,
grotescas com os sapos
e que nunca usaram guardanapos.
Vidas famintas e desagasalhadas,
que dormem ao relento nas estradas
e que de orvalho amanhecem molhadas.
Vidas de pobres sem cultura,
de infelizes criaturas,
que só herdam as sepulturas.
Vidas feitas iguais a minha vida.
De que valem minhas estradas floridas
se nada fiz por essas vidas.