Esquecimento
Esqueci-me do Seno e Coseno,
do militante checheno
e das palavras do Nazareno.
De tudo me esqueci,
nesse pouco pequeno.
Agora só sei dos monócitos
e dos benditos leucócitos.
Só penso e falo outra lingua,
enquanto recebo o remédio
e o otimismo em gotas irritantes.
Quatro, por minuto. Contei.
Como Bandeira*, quero
ir para Pasárgada.
Lá, alvo eu me verei.
Imaculado me saberei,
pois puro herdarei
o reino sem rei.
Mas isso será depois;
por hora, assisto
os seios de Isadora**
e me entedio
com idênticos romances
de repetidas nuances.
Ainda que apenas o afeto
lhes fosse Sujeito e Objeto,
esse mote já não é
o meu predileto.
Romance sem fim
de dramaturgo chinfrim,
abandone minha enfermaria!
E saiba que tu é
uma visita indesejada
que me impede a saída
e bloqueia a entrada.
Deuses! Oh deuses!
Em que armadilha eu cai?
Quedei-me ex poeta enlouquecido
nesse Rio invertido
que ficou com meu verso partido.
E tudo é tão doído...
* Manuel Bandeira
** Isadora Ducan