Noite

A tarde

Nem existia

Dentro dos dias escuros

Só havia laivos de claridade

Dentro do sortilégio das palavras escusas

Perplexas

Engolindo a luz

E o homem

Sem cores para acordar o dia

Procura entre o chão e a lua (que não via)

A sombra

Mesmo que diminuta

Dos dos sons que, em volta, ouvia

Quem é este homem

Que tateia

Em busca da lucidez?

As mãos molhadas pelas lágrimas

Na noite eterna

Que a ignorância fez

Quem é este homem que

Tateia despedaçando

O negro poço mudo?

Tateia só o medo

Dilacerado das guerras

Tateia somente o aço

De fio indistinto e sombrio

E só se apercebe

Do reflexo de si mesmo

Esquecimento

E nostalgia

Correm rios

Esplendem flores

Voam pássaros

Na tua noite

E não os verás

Não há olhos antigos,

Piedade,

Compaixão

Só vagos ruidos na escuridão

Em meio à noite caligem

Não há sorte

Somente o pranto

Dormitando triste

Em seus olhos de bronze

Em algum lugar fora da noite

Crepitam, trêmulas,

As chamas de um fogo

Ecoam

Ternura e vida

A brincarem

Nas espumas castas e surdas

Do dia que não veio