PARA C. (1)

1

Passei a tarde a mirar

Um caleidoscópio.

As cores geométricas

Eram as pessoas a andar pela enseada

E o branco dos padrões angulares

São a areia da praia

E os meus pensamentos (como a bruma)

Também são brancos.

Porque tenho percorrido as ruas

A deixar tudo para depois.

Então me assento num banco de areia

Como um Buda ditoso

A ouvir os ventos e fitar as naus

Pequeninas

Que são meus pensamentos no agitado espumar de ondas.

E me flagro a pensar em ti

E te traduzo num instante de areia e orla e mar e conchas e céu

Onde navegam pesadas nuvens.

2

A areia desta praia é o Tempo

Que permuta as formas que o vento modela e mescla

Por puro capricho (são ondas de areia).

E vento é um açoite que me adoece o pensamento

E faz da areia uma bailarina

Que nos mareja os olhos d´alma.

(porque anoitece na praia

E os moradores acendem lumes

Se recolhendo em suas salas e áreas

- E se desligam assim do noturno fenômeno que engole o mundo, cotidiano e faminto)

Não notam que o farol distante

Segreda aos nautas

Que o perdimento é universal

E trafegamos sem rumo nem porto

E a nossa história inaugura-se em páginas rabiscadas num caderno sem pautas nem tino.

Eu tenho um mirante

(Secreto)

Que me norteia a você.

As horas com suas muitas bocas sussurram...

Mais tarde quem sabe nos veremos, senão no tempo, nos sonhos de areia,

Após o humano repasto.

3

Este capítulo é o Agora

E ficará, portanto, inconcluso.

Me vingarei de mim mesmo

Não escrevendo nada nele

Assim admito a febre

Que invoca a noite anil

No céu brumoso que escurece

Meu pensamento.

28 de fevereiro de 2012

Valmont
Enviado por Valmont em 04/03/2012
Reeditado em 04/03/2012
Código do texto: T3534204
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