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O casal ao lado discute os termos do divórcio.

Dois pares de pernas desencontrados.

Ela prossegue com tom de executiva.

Ele se queixa, manhoso. Diz que a vida está:

intransitável. Ela pede que ele assine aqui, aqui e aqui.

Uma neve ligeira paira,

hesita sobre a rua, logo

se resolve e polvilha o cinza.

As costuras da calçada vão sumindo.

Coisas etéreas pousando num mar de concreto,

abafando as miudezas da vida.

Daqui vejo que a cidade na verdade é três:

a primeira, horizontal, das calçadas,

das praças e dos divórcios.

A segunda, vertical, dos arranha-céus

e dos cânions de ar que se alojam entre os prédios.

E a última, horizontal, das coberturas e

terraços,cada um sob sua caixa d’água,

sentinela gorda em tripé com chapéu chinês.

Eu pairo sobre meu livro entreaberto,

e revoluções me eludem.

Para compreensão geral do mundo, assine aqui, aqui e aqui.