Canção pra pai besta dormir

Como não tirasse os olhos de ti

Num clamor cego de sossego aos céus

Aos seus olhos miúdos

Ao seu ainda menino coração

Te alcanço antes que o horizonte te roube

E te abraço no espaço maior

que se me multiplicassem mãos

Sem que sintas

Te guio os passos

E retiro os tropeços do teu chão

E te deixo ir, meu filho

E tu

Na hora mais desgraçada de medo e solidão

Tu me voltas os olhos

Como ouvisses um lamento

Um murmúrio

Uma prece

De ninguém

Mas sei que sabes

Sei que sentes

Teu pai

Esse teu irmão

Cavando o escuro da noite

Te iluminando a presença

Mais pura de uma lua qualquer

E como não tirasse os olhos de ti

Tudo que vi te acompanha

E, velho, faço-me em novos olhos

Que veem

Que não veem nada nunca mais

E tateio o vazio

E vagueio cego

E tua lembrança me corta as carnes

Teu cheiro é minha ruína

Tua falta me faz tanta

Tanta falta

Que grito

Cego

Que teu silêncio me volta

Que teu silêncio me guia

De volta pra ti

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 03/03/2012
Reeditado em 03/03/2012
Código do texto: T3531972