Canção pra pai besta dormir
Como não tirasse os olhos de ti
Num clamor cego de sossego aos céus
Aos seus olhos miúdos
Ao seu ainda menino coração
Te alcanço antes que o horizonte te roube
E te abraço no espaço maior
que se me multiplicassem mãos
Sem que sintas
Te guio os passos
E retiro os tropeços do teu chão
E te deixo ir, meu filho
E tu
Na hora mais desgraçada de medo e solidão
Tu me voltas os olhos
Como ouvisses um lamento
Um murmúrio
Uma prece
De ninguém
Mas sei que sabes
Sei que sentes
Teu pai
Esse teu irmão
Cavando o escuro da noite
Te iluminando a presença
Mais pura de uma lua qualquer
E como não tirasse os olhos de ti
Tudo que vi te acompanha
E, velho, faço-me em novos olhos
Que veem
Que não veem nada nunca mais
E tateio o vazio
E vagueio cego
E tua lembrança me corta as carnes
Teu cheiro é minha ruína
Tua falta me faz tanta
Tanta falta
Que grito
Cego
Que teu silêncio me volta
Que teu silêncio me guia
De volta pra ti