OLHOS DE DIAMANTE

Não me incomoda o

Ruído prolixo & estrídulo das cidades

Tanto quanto a conversa sem nexo

Dos transeuntes

(Antes me irritam até a neurastenia

Todas essas bocas abertas arrulhando

Como pardais sem asa).

O ruído escandaloso das máquinas, engrenagens, frenagens & buzinas

O frenesi dos armazéns, do atacado & varejo,

Descarregar contínuo de mercadorias, sim

Me agrada

Até a náusea &

Mantém minha atenção inatacada.

Sim, os realejos

Anúncios de ofertas, de igrejas

Promoções, a fumaça branca das indústrias & olarias,

Os açougues & botecos onde os homens expõem a carne

& perdem a alma,

O vapor das moegas, engenhos,

A água-ardente ao lado dos ébrios

No santuário de vagabundos chamado praça pública

& nas esquinas.

Não me sinto

Bem dentro de mim, &

Lá fora me sinto

Séculos melhor:

Quero então que todos os poetas ressuscitem

& vão à merda!

Procuro-me, silente, no

Contemplar a água

Cinzenta que sacia as bocas

De lobo porque elas não mordem

Meu alheamento.

Aliás, todo alheamento

Agrada-me até

A profundidade metafísica

Não aquela dos narcóticos & inseticidas

Que matam meus irmãos (somos mesmo irmãos?)

Como baratas.

& o não estar em mim

Reconduz-me a minha estrela predileta:

O adivinhar os detalhes

Do teu corpo noturno

Nos detalhes de todas as mulheres:

“E verás Helena em toda mulher”

(Mas teu nome não é Helena)

Teu nome é qualquer nome, qualquer sentença,

Nesse transe pisoteado pelos vagabundos

Onde mãos sem braços

Trafegam pelo ar

Fazendo gestos

Obscenos

Que me acenam dos bueiros

De onde brotam

Aos borbotões (borbulhando)

Miríades de ratos

De olhos de diamante.

02-03-2012

Valmont
Enviado por Valmont em 02/03/2012
Código do texto: T3531840
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.