DERRADEIRA INCERTEZA

Para acalmar as dores
do meu coração, coloquei um "stent";
para livrar-me dos temores
noturnos, cerquei minha casa com muros;
para aproximar-me dos amigos
dei-me um carro de presente
e, diante de tantos perigos,
frequentei apenas lugares seguros.

Mergulhei em minh'alma sem medo,
expus ao mundo minha frágil criança;
desnudei o mais íntimo segredo;
visitei o inferno e abracei Satanás.
Confrontei as mais rígidas crenças;
dispensei, quando inútil, a esperança
e, na busca de perdidas presenças,
esclareci rusgas que deixara prá trás.

Vivi a vida, gastei os dias
em lutas que não eram minhas,
mas herdadas de antigas tiranias.
Castelos inexpugnáveis, princesas prometidas.
As verdades para sempre suspeitas;
as mentiras suprindo vidas mesquinhas
em histórias de amor futilmente desfeitas,
como se dor não houvesse nas despedidas.

Agora velho, sentado diante da lareira,
rememoro as tristezas e os desatinos
próprios da incerteza derradeira.
De tudo que fiz nada foi suficiente.
Sigo só por um caminho indesvendável,
assombrado pela ausência de destinos
confiáveis. Mas amparado pela mão amável
De filhos que amo incondicionalmente.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 02/03/2012
Reeditado em 24/07/2014
Código do texto: T3531045
Classificação de conteúdo: seguro