Espelho, Espelho Ateu

Soberana estética

da beleza fundamental

Ditadora da plena forma

De ser escultural

Fecha a boca à natureza conceitual

De ser por dentro pessoa

Esta deixou de existir

Há algum tempo

Perdeu-se

Nas fotos antigas ,

Nas frustrações ,

No desespero ,

Uma rejeição por dia

Na tirania do espelho

Monólogo da culpa:

Ser perfeito

Para que?

Para quem?

Se vai apagar a luz

De qualquer jeito

"Ser gauche na vida?"

Drummond, essa foi mal

Ser rainha na vida

Pois rainha que se preza

Perde o título

Nunca a pose

Ser Dama de Ouros

Depois Dama de Paus

Banquete para abrir apetite

E depois segredos de alcova

Nessa exata ordem

Alimentando em doses

Homeopáticas

A emergência

De serem funcionais

As mães orgulhosas ,

Administradoras

Dos pecados capitais

Ah, sequiosas aspirantes à vitrine

Leituras vivas

De cabedais de armário

Jogaram fora no lixo

A resignação de serem mortais

Seus melhores amigos:

Os diários

Testemunhas de acusação

Do prazer marginal

"Sequem para serem matrizes"

"Oh, robustas filiais"

Ah seguidoras

Anoréxicas ,

Bulímicas

E suas leis diuréticas

Atropelam as bulas vitamínicas

E burlam seus corpos esquálidos

Com pensamentos magros

De serem inestimáveis iguarias ,

De serem ofertas de mercado

Compram "sonhos" em suas fantasias

Na padaria da esquina

E vomitam dobradinhas

Por suas almas mesquinhas

Desejosas de afeto

Pagam caro

Para morte

Vir buscar

Seus segredos

Pechincham

A felicidade

Até os ossos

Por não aprenderem

A serem inteiras

Izabella Gamellas
Enviado por Izabella Gamellas em 18/07/2005
Reeditado em 18/07/2005
Código do texto: T35307