Espelho, Espelho Ateu
Soberana estética
da beleza fundamental
Ditadora da plena forma
De ser escultural
Fecha a boca à natureza conceitual
De ser por dentro pessoa
Esta deixou de existir
Há algum tempo
Perdeu-se
Nas fotos antigas ,
Nas frustrações ,
No desespero ,
Uma rejeição por dia
Na tirania do espelho
Monólogo da culpa:
Ser perfeito
Para que?
Para quem?
Se vai apagar a luz
De qualquer jeito
"Ser gauche na vida?"
Drummond, essa foi mal
Ser rainha na vida
Pois rainha que se preza
Perde o título
Nunca a pose
Ser Dama de Ouros
Depois Dama de Paus
Banquete para abrir apetite
E depois segredos de alcova
Nessa exata ordem
Alimentando em doses
Homeopáticas
A emergência
De serem funcionais
As mães orgulhosas ,
Administradoras
Dos pecados capitais
Ah, sequiosas aspirantes à vitrine
Leituras vivas
De cabedais de armário
Jogaram fora no lixo
A resignação de serem mortais
Seus melhores amigos:
Os diários
Testemunhas de acusação
Do prazer marginal
"Sequem para serem matrizes"
"Oh, robustas filiais"
Ah seguidoras
Anoréxicas ,
Bulímicas
E suas leis diuréticas
Atropelam as bulas vitamínicas
E burlam seus corpos esquálidos
Com pensamentos magros
De serem inestimáveis iguarias ,
De serem ofertas de mercado
Compram "sonhos" em suas fantasias
Na padaria da esquina
E vomitam dobradinhas
Por suas almas mesquinhas
Desejosas de afeto
Pagam caro
Para morte
Vir buscar
Seus segredos
Pechincham
A felicidade
Até os ossos
Por não aprenderem
A serem inteiras