Hipóteses Oníricas

Gostava de escolher um sonho como quem escolhe um filme. Sentar-me e

fixar os olhos na tela das pálpebras. Viajar ao interior de um espaço estilhaçado.

Não ser apenas espectador, mas realizador da minha própria história, de uma certa história. Procurar os personagens, os lugares, o tempo, os objectos, as sensações, os

dias, inventar noites de luz intensa. A penumbra deslizando sob o cristal das horas.

Não digo mais. Voltarei a pensar em inventar sonhos.

"Um corredor, aves no delírio do ar azul, chovem lírios sobre a

consciência da relva. E tu que virás com os lábios pousados no silêncio, só as sombras delidas regressam do mar pela orla dos olhos.

Cindo os ombros verdes em fragmentos, há árvores descendo em

partículas sobre os campos. O areal desnudado do teu corpo.

Numa noite, numa noite os véus da manhã estendem-se pelo espaço, por aquele cenário na névoa líquida do sonho."