Doçura

Aprendo uma reza curtinha,

Que protege muito,

Como diz Dona Maria.

Quando chega em determinada parte,

Ela embola, eu não entendo,

Nem ela entende,

Mas reza!...

Cansada de repetir para eu aprender,

A cada tentativa frustrada, ela ri e diz:

— “A senhora atrapaia !...”

Acho que Dona Maria poderia ser escritora,

Se não fosse analfabeta.

Cria, fantasia, inventa, denuncia...

Dona Maria não é uma mulher vazia,

Nem vadia.

Trabalhou muito

E ainda trabalha!...

Tem olhinhos espertos e brilhantes,

Que ajeita no rosto

Como olhos de uma tartaruga...

E só gosta de foto com muita gente!!!...

De vez em quando,

Tenho urgência de Dona Maria!...

Ela não precisou estudar

Para aprender a não ser ríspida!...

Meu coração está doendo...

Não foi cobra que me picou,

Foi gente culta que me ofendeu.

Passa a mão em meu coração,

E limpa essa mágoa, Dona Maria!

Do jeito que a senhora limpa a pia, triste de vasilhas usadas...

Ou como faz com a roupa suja, que deixa cheirosa e lavada!...

Vem me contar casos,

Vem me distrair,

Vem me fazer rir!...

Dona Maria,

Que não me contraria

E me contagia

Não é benzedeira.

Ela é uma pessoa simples.

Ela é só uma pessoa doce...

___________________________________________________________

Janeiro - 2007

Pequena homenagem a Dona Maria, de Nova Viçosa - Bahia.

Faz um ano que ela morreu, em consequência de pressão alta...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 20/01/2007
Código do texto: T352902