Voo noturno
Nos escombro da existência...
Sempre existe um ombro amigo,
Nem que seja o nosso.
Tony Bahia
Voo noturno
Farto, farto de tudo, até da fartura.
Ledo engano pensar que flores existem além do jardim!
Não estou em mim, não estou em ti, não estou em nós,
Nem ouço vozes que me pedem calma.
Destroçado e destruído pela maldade da vida, penso!
Penso, repenso, não penso, não vivo!
Sobrevivo à duras penas
Sobrevivente fugaz do mundo.
Mal profundo, quase chego à loucura...
Saio de mim por instantes e voo
Voo noturno na escuridão e na bruma!
Sigo minha sombra, espectro de vida
E sou quase despedida...
Aplumo minhas asas numa árvore perdida,
Entre as lembranças do passado.
Certo, errado, não sei quem sou...
Momentos torpes que me chegam em vão.
Atrasado pela lentidão dos meus passos,
Feito violino, sem cordas, sem haste, nem braços.
Destronado no fundo de um poço
Temo a escuridão!
Tento agarrar-me nas asas de um anjo
Eles sempre me socorrem quando preciso
E num último sopro de vida que me resta,
Uma réstia de luz entre frestas na floresta.
Tony Bahia