CHOVE LÁ FORA

CHOVE LÁ FORA

Chove lá fora.

E eu aqui dentro sem ter o que fazer

a não ser ouvir os respingos de chuva na janela

e escrever o que chove dentro de mim,

molhando meu rosto e o coração.

Ouço o barulho do ventilador ligado na sala ao lado

mas sua brisa, seu vento, não alivia o calor

sonolento do meu corpo e de minh'alma

nessa tediosa tarde de chuva.

Algumas crianças brincam lá fora

aproveitando a enxurrada

e eu que via tanta graça nisso

simplesmente olho com medo de pegar um resfriado.

Sinto o cheiro de comida sendo preparada

e isso me anima um pouco

porque talvez as inúteis conversas à mesa

distraiam meu corpo,

embora eu esteja distante da mesa.

Vejo pelo barulho dos pingos na janela

que a chuva continua lá fora

e pelo peso que sinto

que ela aumenta dentro de mim.

Já se aproxima a noite e ainda mantenho

a mínima esperança de que a chuva logo passe

e as estrelas, milhares delas espalhadas,

como súditas da lua cheia

venham a ser como fogos de artifício

que contagiam de alegria o coração das crianças.

E aquela estrela solitária

com quem tanto converso

se torne uma estrela cadente

e venha para dentro de mim.

E essa chuva que continua a me incomodar

acabe de vez e eu possa dormir

até outro dia qualquer

também tedioso e sufocante

e onde a primeira constatação seja:

chove lá fora.

Humberto Amancio
Enviado por Humberto Amancio em 18/07/2005
Código do texto: T35260