CHOVE LÁ FORA
CHOVE LÁ FORA
Chove lá fora.
E eu aqui dentro sem ter o que fazer
a não ser ouvir os respingos de chuva na janela
e escrever o que chove dentro de mim,
molhando meu rosto e o coração.
Ouço o barulho do ventilador ligado na sala ao lado
mas sua brisa, seu vento, não alivia o calor
sonolento do meu corpo e de minh'alma
nessa tediosa tarde de chuva.
Algumas crianças brincam lá fora
aproveitando a enxurrada
e eu que via tanta graça nisso
simplesmente olho com medo de pegar um resfriado.
Sinto o cheiro de comida sendo preparada
e isso me anima um pouco
porque talvez as inúteis conversas à mesa
distraiam meu corpo,
embora eu esteja distante da mesa.
Vejo pelo barulho dos pingos na janela
que a chuva continua lá fora
e pelo peso que sinto
que ela aumenta dentro de mim.
Já se aproxima a noite e ainda mantenho
a mínima esperança de que a chuva logo passe
e as estrelas, milhares delas espalhadas,
como súditas da lua cheia
venham a ser como fogos de artifício
que contagiam de alegria o coração das crianças.
E aquela estrela solitária
com quem tanto converso
se torne uma estrela cadente
e venha para dentro de mim.
E essa chuva que continua a me incomodar
acabe de vez e eu possa dormir
até outro dia qualquer
também tedioso e sufocante
e onde a primeira constatação seja:
chove lá fora.