O RETIRO DOS DOMINGOS
O RETIRO DOS DOMINGOS
Não há nada aos domingos.
Nem a chuva que cai,
aos domingos é real,
ela apenas cai e não molha,
talvez porque as lágrimas,
molharam bem antes.
Porque aos domingos,
sempre aos domingos,
quando não,
em outro dia da semana,
as lágrimas insistem,
salgadamente,
em preencher o vazio?
Estou só e eu sei,
sei tão bem que nem sei,
se estar só é próprio de mim,
ou característica dos domingos.
Mas sei que não há amor
guardado para mim aos domingos,
nem alegria ou outro sentimento,
digamos que seja bom,
nestes domingos de chuva.
Porque meu amor se retrai,
todos os dias de semana,
e ainda mais aos domingos?
Não o amor que eu quero,
porque na verdade não importa o dia,
este já não me quer mais.
Mas o meu próprio,
o meu amor,
aquele que dentro de mim,
brotava e que devia,
mesmo sendo domingo,
continuar a brotar?
Antes havia praia aos domingos.
A praia era do álcool aos domingos.
Por isso havia praia
e esquecimento dos domingos.
Mas agora há apenas essa chuva,
não a oblíqua de Fernando Pessoa,
mas essa transversal e transparente,
que atravessa a gente e,
ao se misturar às lágrimas,
que caem nesse domingo,
simplesmente deixa de ser chuva,
para ser mais uma angústia,
uma angústia infindável,
de um amor inexistente,
que sempre aparece aos domingos.
E eu me olho na tela,
do computador aos domingos,
e como não é espelho,
nele escrevo que domingo,
não é mais dia nem menos dia,
é apenas um dia qualquer,
pois só é especial por ser domingo,
e ter essa chuva salgada dentro de mim.