FOLHA BRANCA

FOLHA BRANCA

Percorro as várias páginas em branco

desse bloco inexistente de papel

inconseqüentemente encontro nelas

uma poesia qualquer a ser escrita

já que não sei desenhar

e daí repito Lao-Tse

"É numa folha em branco que se escrevem

os mais belos poemas".

Minh'alma não é branca nem nada

ela simplesmente paira, quedada muda

olhando o abismo inexistente entre ela e mim.

E aí termina a semelhança

por começar a igualdade.

Eu e ela vemos coisas onde as pessoas vêem beleza

mas ela vê as coisas como elas são

e eu vejo as coisas como mera ilusão

dela e de mim. E na verdade de todos.

E é dessa diferença, desse abismo entre ela e mim

que nascem de diversas formas e em diferentes momentos

as poesias que nunca escrevi

ou aquelas que um dia nunca escreverei.

Pois na verdade só podem ser escritas

aquelas que o agora revela,

sem a dor dos passados

ou a insensatez do futuro.

Se antes nasciam nos momentos obscuros e solitários

ou nos dejetos da família ainda existente

hoje nascem nos guetos, nos bordéis ou nas sarjetas.

Mas não são poesia como as querem alguns

São simplesmente imagens multifacetadas

de um tédio decomposto de mim e do presente.

Talvez melhor seria ou fossem

nada resta, nada foi, nada é e nada serão.

Mas estão sempre presentes nesses momentos

de desencontro entre minh'alma e mim.

E um dia acharei as páginas faltantes desse livro

que está dentro de mim e daí talvez encontre poesias.

Por enquanto simplesmente procuro no índice

e a poesia sai quando acho uma folha em branco.

Em branco como se fosse a neve que nunca vi!!!

Humberto Amancio
Enviado por Humberto Amancio em 18/07/2005
Código do texto: T35256