DIA DE NATAL
GILBERTO BRAZ ALMEIDA
Menino Deus, Jesus Menino.
Vejo-te irritado, confuso e triste.
Também pudera, perdeste o trono
para um velhinho bonachão,
usurpador e vilão,
apelidado de Papai Noel.
Menino Deus, Jesus Menino.
Tornaste um menor abandonado
na noite mais linda dos homens.
Milhões de luzes piscando,
vitrines coloridas,
bares enfeitados de Sodoma e de Gomorra.
Tens fome, tens sede, tens sono...
Tentas dormir num banco de concreto
na Praça de uma cidade grande.
Menino Deus, Jesus Menino.
Acordas assustado,
tiroteio, balas pedidas zumbindo no ar.
Agonizante tomba mais um inocente.
Que madrugada horrível!
Olhas para o céu, roubaram-te a estrela guia.
Todos estão perdidos na madrugada suja.
Novamente um policial mascarado
de soldado romano fica na tua captura,
foges como um cão vira-lata
a procura de uma confortável manjedoura
Menino Deus, Jesus Menino.
Finalmente é dia de Natal,
a maior festa comercial da humanidade,
andas como um cão peregrino pelas ruas desertas.
As calçadas cheiram a consumidores inveterados.
No templo vazio, bitucas de maconha, restos de cocaína...
Os doutores da lei ausentaram-se para sempre,
ninguém fala contigo uma só palavra.
Menino Deus, Jesus Menino.
No decorrer do dia, festa total nas mansões dos magnatas.
A tua fome é do tamanho do mundo,
a tua roupa suja e rasgada representa os pecados dos homens,
o teu pai José e a tua mãe Maria estão desempregados,
sem um teto para morar, nada podem fazer por ti.
Em meio a uma multidão embriagada, assassina...
Numa morte inocente, tão cruel quanto à da cruz!...
És mais um número na estatística do crime.