[O Sono da Vida]
Tardiamente [será?], desperto,
eis-me no mundo de agora,
e de olhos abertos para tudo...
Uma claridade absurda ilumina agora
todas aquelas possiblidades de amar
que eu não deveria ter perdido, e perdi!
Mas, a vida é agora, o antes foi um sono só,
um longo sono daquela outra vida desvivida
em desistências, em sufocamentos de mim...
Se tenho vontade, então faço:
tenho a nítida clareza da fuga do instante,
e agora, muito mais que antes,
o meu desejo apossa-se -me do meu corpo!
Experimento a liberdade inútil
daqueles que sentem a condenação,
porém, desprezam, desdenham
da extinção do corpo, do ser.
Saboreio a comida como se fosse
a última refeição de um condenado.
[Desterro, 14 de dezembro de 1998]
--- Variante de 27 fev 2012 ---