RECEITA
Essa poesia é de um poeta não muito conhecido e que é oftalmologista. Mas é um grande poeta.
Traz recordações dos meus 15 anos, quando ganhei esse livro, com uma dedicatória especial, o qual eu guardo com muito carinho. E que eu gostaria de compartilhar com todos.
Não deixe o tempo
Passar correntes
Em volta de seu corpo,
E que as aranhas teçam teias
Em seus dedos.
É preciso impedir
Que os olhos acostumem
O olhar pela janela,
Na mesma rua
Onde homens cinzentos
Cruzam maquinalmente.
É necessário ter sapatos
Bem engraxados,
Sem furos nas solas,
Para que os pés não cansem
E não se machuquem
Nas pedras do caminho.
Morar em casas
Com porão, sótão e quintal,
Onde possamos encontrar
Pessoas desconhecidas
E objetos indecifráveis
Na soleira da porta.
Ter reservas de carinho,
Coleções de selos e de moedas,
Ter amigos que gostem
De música e poesia,
Bolsos e armários embutidos.
Ter sempre esperança
De encontrar o amor
Num parque possível,
Sábado ou domingo
Ou outro dia qualquer.
Antes de tudo
E principalmente
É preciso ter paciência,
Crer que os tempos mudam
E que teias de aranha
Não crescem sem motivo.