RECEITA

Essa poesia é de um poeta não muito conhecido e que é oftalmologista. Mas é um grande poeta.

Traz recordações dos meus 15 anos, quando ganhei esse livro, com uma dedicatória especial, o qual eu guardo com muito carinho. E que eu gostaria de compartilhar com todos.

Não deixe o tempo

Passar correntes

Em volta de seu corpo,

E que as aranhas teçam teias

Em seus dedos.

É preciso impedir

Que os olhos acostumem

O olhar pela janela,

Na mesma rua

Onde homens cinzentos

Cruzam maquinalmente.

É necessário ter sapatos

Bem engraxados,

Sem furos nas solas,

Para que os pés não cansem

E não se machuquem

Nas pedras do caminho.

Morar em casas

Com porão, sótão e quintal,

Onde possamos encontrar

Pessoas desconhecidas

E objetos indecifráveis

Na soleira da porta.

Ter reservas de carinho,

Coleções de selos e de moedas,

Ter amigos que gostem

De música e poesia,

Bolsos e armários embutidos.

Ter sempre esperança

De encontrar o amor

Num parque possível,

Sábado ou domingo

Ou outro dia qualquer.

Antes de tudo

E principalmente

É preciso ter paciência,

Crer que os tempos mudam

E que teias de aranha

Não crescem sem motivo.

José Eduardo degrazia
Enviado por Iliane S Iglesias em 26/02/2012
Reeditado em 29/02/2012
Código do texto: T3521747
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