À Antonio Machado
“caminante, no hay camino,
se hace camino al andar”
(Antonio Machado)
Caminhante, não há caminhos de terra
que os teus passos possam andar
não há caminhos na noite
que os teus passos cansados
pisando a finitude do mar
pisando em sóis e arvoredos
pisando a seiva que fez a dor e os medos
possam num assomo alcançar
Os cães ladram para os teus passos
augúrios esquecidos no ar confundido
aos ventos da manhã ardendo
vertente do dia
que logo nasce dessedento
já inicia a morrer
Caminhante, o caminho flutua no riso
da velhice
que os teus passos te deram
na cadência da terra firme e dura
das estradas gentis que passastes
Claras nascentes
rios escuros
alguém ouviu os teus passos nas águas
e retornou
silêncio no peito
as mãos tateando o ar da tarde antiga
que os ventos ouviam
singelos
sementes do rumor do hálito dos rios
Aquele que ouviu espera
tocado pela cegueira
dos olhos fechados ao silêncio
das ruas ocres e vagarosas.
Caminhante, não há caminho
só há teus passos na estrada em frente
que um dia se apagarão
Ouve?
É a voz do Tempo
brincando com as areias
e com a memória
dos teus passos pelo chão