Sobre a morte
Livro aberto entre as mãos cansadas,
e um suspiro longo que diz quase nada.
As páginas desorganizadas no chão, caídas
e as mãos pendentes, respiração cancelada.
O que foi e o que se perdeu pela estrada,
toda ira divina e toda a mágo guardada,
é apenas a mão, pendente inutilizada,
que feriu e amou e agora é paralizada.
As palavras o vento carregou pra longe.
Os gestos que lutaram pela vida amarga,
estes, se congelaram e viraram lembrança,
lacrimosa angústia em minha voz embargada.
Nunca mais sobre isso falarei nesta vida,
este prefácio óbvio de uma morte anunciada.
Sob a velha cruz coberta de hera e a estrada,
repousa a infãncia e minha saudade guardada.
-----------------------------------------
Pintura: São Francisco de Zubaran