Perdas

Se o Senhor me mostrar, eu acho!

Nem que esteja debaixo do colchão,

Dentro da gaveta,

Atrás da cômoda,

No meio da roupa limpa,

No guarda-roupa...

Se o Senhor me mostrar,

Eu acho o meu caderno grande,

De capa preta,

Que eu conservava a meu lado,

Quando ia dormir...

Caso acordasse com uma idéia,

Era nele que eu escrevia, últimamente...

Já escrevi em tantos cadernos!!!...

Grandes, pequenos,

De capas coloridas

Ou não...

Procurei-o,

E procurei em vão...

Relaxo...

Um dia, ele há de aparecer!

E se não aparecer?!...

Entre sumir um ou outro,

Antes ele do que o outro,

Semelhante a ele, com o orçamento do mês,

Anotadas todas as contas por minha conta!...

Se este sumisse,

Aí, sim!

Na hora do pagamento, eu ficaria sem referência...

Daí, a minha preferência.

Mas perder escritos não é fácil!

No meu caso, é ver poemas proscritos...

Meu caderno grande, de capa dura, preta

Não deve estar no meu quarto...

Se estivesse, eu o teria encontrado!

Onde estará o caderno escuro

Que tanto procuro,

No claro?...

Claro!

Está sumido.

Deve estar dormindo...

É noite alta.

Estou acordada.

Olho o bico do meu seio esquerdo

Que salta da camisola...

O cão ladra lá fora.

É noite alta, e falta...

Durmo de luz acesa.

Não durmo.

Escrevo...

Nesse caderno novo,

Nesse novo caderno,

Cheio de linhas

E espaços brancos...

Um seio escondido e outro, não.

Uma mão na caneta e outra, não.

A meu lado, um homem recente

Não houve

Não há.

O que já esteve a meu lado

Não me ouve...

Não ouve mais!

Já ouviu...

Em outro tempo!

Já houve!...

Ave!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 19/01/2007
Código do texto: T351746