Agora

agora

igual a primeira hora

do primeiro tempo

do instante que faz o presente

translúcido

da vida que me devora

do tempo inefável

rabiscando sempre a primeira página

deste livro de deleitosas palavras

de ásperos e obscenos grafismos

palavras castas e tristes

cativas de si mesmas

tímidas

flertando, acanhadas, com o

não

estas palavras

que nos escuros se acendem

fogo-fátuo

agonia

palavras desta tristeza ardente

aguda senhora que vive

e morre

nos versos

nos livros

nas pétalas das rosas

na fria adaga do espinho

no dias indistintos

palavras frágeis

pequenas

doídas

solitárias

como uma sombra num lago

agora

com as nossas letras disjuntas

por entre o sonho e a razão

febrilmente escorre a minha mão

escrevendo na minha vida incendiada

adeus

saudade

(...)

solidão