à sombra da cananga

na trama os gritos se misturam aos bichos

o sol queima o pasto onde caminhava o grilo

que há pouco viu o esqueleto de duas aranhas

esmagados pela sola da sandália havaiana

de uma menina com no máximo cinqüenta quilos

a olhar as pessoas com os desejos do espírito

tinha respingos d'água nos ombros e cílios

sem pressa

não estava certa se aquilo era real ou delírio

mas ultrapassava os limites do curral com firmeza

a pés que não tinham a aspereza das ideias

que riscavam a terra no alfabeto da experiência aberta

como quem deixa uma carta antes do suicídio:

"aqui estão os melhores anos da minha existência"

vestia a canga lisa e marcas de nascença

no passo

levantando poeira com os pés no batuque

que emerge da terra artificial

as luzes confundem a turba que grita e pula

cujo pranto e o suor dividem o sal

as pedras é que sabem sob as caras nuas

refletidas na lama e no caos da bagunça

minha e sua a esperança na dança de ser

eterno

Avati
Enviado por Avati em 22/02/2012
Código do texto: T3513143
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