Psicose barroca II



Animal acuado no canto da sala,
o que percebe dessa perspectiva?
São lembranças que não se vão,
ou alucinação da túnica conjuntiva?

Sinta-se bem revolvendo esse corpo,
crivado de tão finos e negros espinhos,
nascidos do lado de fora, da realidade,
para dizer que estamos todos sozinhos.

Covarde, mentiroso, destruidor do céu,
dessa jaula não se pode entrar nem sair,
sem que o cheiro da morte se espalhe,
e anuncie o que os olhos querem mentir.

Filho da perdição, aspirante a anjo,
é o junkie mais estilhaçado do mundo,
com os pulsos atados em esparadrapos,
e o peito cheio do amor mais imundo.

Contemple a arte em sua sala de espelhos,
pois todas as mortes viram cicatrizes,
desenham a caligrafia da espreita e da ânsia,
e força nos rostos os  sorrisos mais infelizes.

E quando terminar o efeito dos alfinetes,
quando tudo parar de se mover ao redor,
ainda haverá um rinoceronte na sala,
e a dor de estômago cada vez maior.

Mas minha sala agora é branca,
livre de janelas e anjos entediados.
Controlo o futuro em um teclado invisível,
e o passado com seringas e dardos.



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Para ver o vídeo que inspirou o poema, acesse:
http://www.youtube.com/watch?v=VrZ4sMRYimw&ob=av2n

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 21/02/2012
Reeditado em 22/02/2012
Código do texto: T3511777
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