Fera Racional
Eis que febril queima o corpo meu
Num instante dócil que em mim toca, o corpo seu.
Estes teus braços, em laços, em plumas,
teus encantos, espantos, espumam,
teus olhos domados, em risos, em versos.
Teus pecados meigos, de afagos, de beijos.
Eis que a ti revelo meus sonhos, em gritos, em pranto.
Num súbito instante, de amores, de dores.
Por teus insultos, deboches, rumores,
nestes negros olhos, de glória, delírios.
De pegadas duras, desvairadas loucuras,
neste pranto falso, de tortura, castigo.
Eis que tu tão farto, tão nítido, tão puro.
No tapete enrola, teu corpo, tua face.
Nestas melodias, sussurros, desgastes,
destas noites loucas, de pasmo contraste.
Tuas fantasias de sonhos malucos,
tua frente fria, de tristes desastres.
Eis que a mim voltas: sereno, calado.
Num olhar carente, de intrigas e abraços.
Destas peles rubras, de apertos, marcadas,
deste alivio fértil, que exala, espalha.
No meu corpo sadio, esgotado espectro.
Eis que descansa-te nu, sereno e domado.
Branca Tirollo