Eu preciso de cúmplices

Eu preciso de cúmplices

Meu coração é um balde despejado.

Fernando Pessoa

Não é manhã, não é dia, nem são noites,

São açoites, perturbando o sono.

Diabos, deixem-me dormir!

Será que não mereço ser um cão sem dono?

Nem mesmo o pão que se faz na padaria

Imagina-se pronto e eu já me imagino, degustando-o...

Estou presente e ausente, em frente ao computador

Amigo de sonhos e artifícios...

É assim que me sinto.

As teclas são a ponte entre o abismo e o labirinto

No equilíbrio dos sonhos.

Sem sono, fumo e me levanto,

Bebo água, depois de longa tragada.

Apago o cigarro e quero mais um...

Outro e mais outro.

Penso alto, como se estivesse declamando o que escrevo.

À voz rouca, pelo pouco acordada!

O silêncio é a ira de deuses que sempre a mim é dado.

Veneza, queria estar em Veneza, em uma gôndola!

Acompanhado? Sim... Acompanhado

Por Você, que me lê agora e eu de fora,

Observando essa loucura de nós dois.

Ânfora, onde se coloca ervas do oriente...

Sou mar, sou pedra, oceano, metaforicamente insano.

Todos os anos que se passaram em minha vida.

Copacabana e seus velhos edifícios calados,

Mais silenciosos que o silêncio da noite.

Sou o mundo, longe desse insensato mundo.

O Himalaia, quem me dera, fosse o Himalaia!

O canal de Suez, onde braços fortes atravessaram correntezas.

A leveza de um Anjo, o interlúdio e o compasso

Onde Beethoven compôs a Nona Sinfonia.

Regendo uma orquestra...sim! Um maestro,

Com dedos largos e longos e movimentos ritmados!

O leito e a margem de um rio, na levitação da correnteza.

Um livro! um após outro, com todos os meus sentimentos...

Em movimento e estático!

O meu cérebro é uma quimera e sonho.

A água não satisfaz todo álcool,

Que o meu organismo ingeriu e absorveu...

E todo tabaco que entrou pela minha goela adentro.

Meu coração não se espanta,

De ter dado tanto amor a um cachorro.

Sou dado a saudades e saudade, antes mesmo, dele ter partido,

Porque sempre fui metade, dentro desse mundo,

Onde nunca fui inteiro.

Outro copo d'água,

Outra tragada

E outro levanto...

Entre a sala,

A cozinha

E o banheiro.

A água não me satisfaz...

Estou ressecado pela bebida ingerida,

Na loucura, de mais uma loucura, na loucura de um dia.

E fui feliz, mais um dia,

Totalmente e divertidamente eu.

Esqueci o passado, o presente e o futuro!

Joguei conversa fora e fui duro

Com uma amiga que me ama.

Beijei-lhe a face, quando me trazendo para casa.

Esse é meu jeito de pedir desculpas.

Não sei como cheguei.

Sei que cheguei, porque estou aqui,

Escrevendo a estória do dia...

Gostosa brisa de domingo, que, supostamente,

Não é mais domingo, agora.

Levito, nessa madrugada de segunda-feira.

Esse livro será editado?

Óbvio,

Eu preciso de cúmplices.

Tony Bahia
Enviado por Tony Bahia em 21/02/2012
Reeditado em 21/02/2012
Código do texto: T3510826