onde quer que seja

O tempo me chega

pelos

ouvidos

e me pega

pela mão

como se eu fosse

uma criança

perdida

numa casa vazia

não fossem os móveis

pouco a pouco

descobertos

de seus panos

quentes

brancos

para que (?)

novamente possam ser

(re) cobertos

daquilo que o vento traz

daquilo que a gente faz

e que o tempo permite

que se acumule

estaticamente

esteticamente

sobre eles, sobre nós

há histórias

a se contar

e hoje o tempo me chega

pelos

ouvidos

e corre por mim

das pontas dos cabelos

a dos dedos dos pés

...

ela diz [a voz

do tempo me soa

feminina]

ela diz ter

olhado sempre

por mim

mas desconfio

que a verdade seja

"para mim"

e ela me viu

ser e mudar tantas

e tantas vezes

de móveis, de gosto

de rostos em espelhos

e porta-retratos

ela mantém a conta

ainda que não se queira

pagar para ver

ela me faz lembrar

de um tempo

que já se foi

e não sei

se sinto por ele

algo

além da dor

do lembrar

e não saber

...

enquanto ela canta

eu vago pelos cantos

como os fantasmas

de um passado

que agora se faz

presente

a casa era a mesma

mas eu

era outra

e dançava sozinha

sem medo de conter

lágrimas e passos

de ida

de vinda

de dança

...e ela cantava

e canta

enquanto eu sigo...

a casa era outra

mas eu

era a mesma

e com ele dançava

como se fosse a última

música

sem saber ou querer saber

se estavam fazendo aquilo

do jeito certo

rodopiando seguimos

a eterna dança, enquanto

ela canta e sempre cantará

quando quer

que seja, onde quer

que se esteja.