Sem sono
Sem sono
Hoje, vou amanhecer, escrevendo nesse silencio!
Aproveito o sono de todos,
Para me sentir...inteiramente!
Acabar com esse maço de cigarros
E embriagar esse cômodo de fumaça.
E me sentir perturbado
E perturbar esse tedioso silencio, que me dá tédio.
Ó dias de festas e luzes,
Copos de cristal, partindo-se em cheio!
Ó dias de angustia e atropelos!
Noites de Natal, dias de casamentos!
Os amores da minha vida, todos eles,
Distantes,
Feito o ponto mais longe do infinito.
Eu quase nunca guardo as coisas:
Só papéis e rascunhos...
Minhas poesias:
Tudo coberto por poeira.
"Detesto quadros tortos na parede"...
Passei por tudo,
Andei por tudo e tudo fiz
O que sonhando quis passar e fazer.
Sentei em todos os bancos de praças...
Chorei, recostado a tantos postes quantos existiam.
As praças e os postes das minhas emoções!
Quantos bares, semi-fechados, acolheram
Minha homérica embriagues e quantos bêbados
Trocaram comigo palavras sem nexo e absurdas.
Quantos ouvidos ouviram minhas estórias fantásticas e obscenas
E quantos silêncios descobriram meus segredos.
Quando escrevo, estou cônscio e tranquilo!
Se transmito desespero, insanidade e loucura
É porque estou farto de ser eu mesmo.
Quero ser outro, periodicamente.
Se transmito solidão é por causa da solidão do silêncio
Ou porque estou realmente só.
Gosto da solidão, do desespero e da loucura.
Se, pelo menos não me acostumo comigo,
Terei que acostumar-me com as coisas que sinto.
Eu sou o dono da minha verdade
Só porque ela é minha.
Eu sou o dono das coisas que sinto
Já que não sou das coisas que tenho.
Eu não sei o que sou, nessa hora,
Mas sei, do que sou dono, agora.
Se algum dia, tiver impresso esses versos
Ninguém saberá o que sou
Ou o que fui, nessa hora.
E estou feliz por não saberem...
E sou feliz porque me satisfaço com pouco
E sou feliz, porque não sei o que é felicidade!
Continuo paradoxal...
O silêncio é tão grande que me distrai...
E não adianta querer completar um verso
Um verso não tem complemento.
Completar um verso é apenas aumentar um verso
E deixar de ser a emoção do interior
Para ser um complemento.
Gosto de escrever quando sinto dor, garra, gana,
Uma necessidade orgânica!
Como uma vontade de levar ou dar uma porrada.
Como se escrever verso fosse a pílula do sono
E escrevo versos até sentir sono...
Minhas noites desertas, feito os maiores desertos!
Minha lucidez intuitiva,
Minhas obrigações diárias,
Do cotidiano que me irrita...
As coisas belas, ninguém vê com facilidade
Os defeitos, sempre à flor da pele.
Um cego poderia ser feliz
Se não sentisse as coisas!
Se não fosse o mais importante ver a coisas, as coisas belas...
Sinto dor ao pensar que a natureza é morta para o cego
E para as pessoas que não sabem que a natureza tem vida.
Que uma planta respira e tem sede
Que um galho seco se resfria...
Sinto angústia, ao pensar que as pessoas,
Só se importam consigo mesmas.
E só em pensar nisso, minhas noites,
Não deixam de ser poeira no deserto.
Ando amargurado,
Como se toda a amargura do mundo
Estivesse concentrada na essência da minh'alma.
Ando ridiculizado e não me deprime as pessoas
Que acham o ridículo da vida: Ser poeta!...
Fico amargurado, porque amargura, faz parte de mim.
A amargura, não é a minha maneira de ser:
É minha maneira de viver...
Tenho gasto tanto tempo com coisas fúteis...
E só de pensar nisso, me fulmino.
Queria ter todo meu tempo para escrever versos!
E às vezes fico pensando:
O que será desses meus versos?
Não! Não sei, o que será desses meus versos!
Só sei que é a única coisa que faço com satisfação...
E não adianta eu me forçar em ser fútil
E querer escrever versos...
Porque assim eu seria fútil
Forçado a versos escrever!...