Eu Queria Sonhar Novamente
Eu queria vestir aquela jaqueta de lã preta novamente
e lhe ver com seu vestido verde.
Aquelas roupas costumeiras,
as melhores e únicas que tínhamos.
E que tudo fosse novidade como novo era tudo
o que cotidianamente fazíamos:
ver as mesmas vitrines,
descer a rua e subir a avenida,
fazer planos,
discutir o nome dos filhos que teríamos,
como seríamos
e o quê faríamos.
Era tudo um sonho que sonhamos juntos.
Veio a realidade e tudo se tornou REAL demais.
Eu Queria Voltar a Sonhar.
Subir e descer avenida e fingir que seríamos
eternamente jovens e que nada e ninguém se oporia ao planejado.
Nem o Tempo e nem a Vida.
Aí veio a vida de verdade e nos despiu de nossas fantasias.
Aí veio a coisa prática e mudou a direção do trajeto.
Aí veio os nossos verdadeiros Eus e nos mostrou
Como os nossos Nós estavam amarrados/enganados.
Mas,
Eu Queria Sonhar Novamente...
L.L. Bcena, 05/09/2011
POEMA 553 - CADERNO: POEMAS AZUIS*
*Dedicado ao meu filho, Phill.
AZUL
Uma vanessa tropical travou na campânula
de uma ipoméia
o vôo oscilatório e helicoidal.
Dobra o quimono de franjas sinuosas,
marchetado e hachureado
com minérios de cobre:
aréolas, anéis, jóias concêntricas,
olhos de íris elétrica e de pupila enorme,
ocelos de um leque de pavão.
Sinto o perfume da flor nova,
com mais dois estames, buliçosos,
e quatro pétalas, de um esmalte raro,
molhadas nas tintas de céus fundos,
e cromadas com faiança das lagoas...
João Guimarães Rosa – in: MAGMA
PS- Phill,
observe que no corpo do poema não aparece o vocábulo 'AZUL', mas o poeta nos arremete a variedade de substantivos azuis e daí o título do texto (coisas de poetas, sobretudo do grande J.G.R).
Leonardo Lisbôa.