CANDANGOS

Vivo de traduzir o que o coração diz,

e o que não diz.

Como andarilho da alma, percorro os pensamentos

com furor desvastador,

buscando meandros, caminhos, becos, bocas, atalhos.

Esse é a minha sina, ofício bendito que cumpro agarrado às

ancas da f'é, aos legados desaparafusados de um legado

muito especial.

Vivo de entender o que as palavras dizem,

ou teimam em náo dizer.

Depois, enxaguo estas palavras numa grande bacia de cisal,

que guardo sempre dentro de mim com carinho,

para purgar delas suas anáguas mais submersas,

mais adversas.

Então, sem desfolegar ou entorpececer nenhum poro que seja,

penduro no varal dos meus sonhos cada candango encantado

qjue cruzar meus caminhos. Em geral, são muitos,

os candangos e os caminhos.

Como se tivesse um compasso em cada mão,

vou traçando curvas nas fuligens ainda virgens dos

sussurros e acenos que surgirem do nada.

Isso às vezes dói, ás vezes sangra, às vezes afugenta.

Mas sempre traz novos confins que alinhavo e arremato

com toda calma que couber nos meus ossos de poeta manco,

poeta raso, poeta aflito. de poeta míope.

Por fim, quando as minhas núvens se cansarem de viver,

meus marionetes desistirem de falar por si e minhas

dobradiças resolverem sair numa debandada só,

pegarei minhas trouxas que jaziam atiradas num canto qualquer

e irei embora sem olhar para trás.

Nunca mais precisarei olhar para trás.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 19/02/2012
Reeditado em 21/02/2012
Código do texto: T3507474
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