Fugaz

A noite repousa na neblina suscetível

ao fogo insone

que envelhece comigo

eclodindo em sonhos premonitórios

Esvai-se o instante contrário aos meus olhos

à melodia dissonante da minha poesia

Eu que morro proscrito a cada instante

Eu que repercuto em insondáveis mundos

em palavras que me mordem

enquanto o silêncio esmaga o sussurro da tua ausência

Esmaga a mim que o amor esqueceu

inexplicável imagem desfocada no espelho

num tempo incerto

lento

dissoluto

onde o passado escorre

como a tinta sinuosa do silêncio dos teus olhos negros

Absolutamente cúmplices do destino que surge espesso

como mantas do medo que circula em minhas artérias

como a ponderação do grito que embate contra os ventos do abismo

Morro no passo esmagado das horas do relógio

no cair das pétalas da flor...

No outono

morando nas árvores nuas

rumorejando as palavras vagarosamente

cicatrizes incandescentes dos dias

espalhadas pelo chão

palavras que não reflorirão

em tua alma absorta

e nem dentro de mim