CAIS DA SOLIDÃO
Sempre me orvalha a retina
Assistir de alma cansada
A juventude encerrada
Numa bagagem de mão
Ali um terno batido
Junto a um lenço manchado
Esconde um rico passado
Em um misero alçapão
Não lhe pergunta os passantes
Qual será o seu roteiro
Se tem algum companheiro
De onde veio,pra onde vai
Não percebe a brevidade
Daquela vida na terra
Não vê que a velhice espera
Nosso fim em triste cais
E no abismo deste olhar
Já bafeja a tempestade
Em ondas de insanidade
Desnorteando a razão
O remeiro de seus sonhos
São os seus franzinos braços
O seu destino é o fracasso
O seu porto a solidão
O passado e o presente
Se misturam em seus atos
A família é só o retrato
Das derrotas que viveu
Despreza emoções queridas
Se julgando um vencedor
Vai renegando o amor
Qual fardo que Deus lhe deu
E assim vai tropeçando
No nada que se avoluma
Gerando as mais densas plumas
Que destroça os ideais
A sabedoria outrora
Reinante em seu ambiente
Hoje é sombra simplesmente
No suspiro de alguns ais
Desperto da letargia
Desta análise momentânea
Sentindo uma dor estranha
Dominar todo meu ser
Enquanto um ônibus transporta
O mentor de meu sismar
Pra nunca mais retornar
Eu choro pra não morrer!