MAR ADENTRO

Nado num imenso mar
azul e profundo. O reflexo da lua
estabelece a rota que me orienta
nas braçadas decididas e aflitas.
O corpo move.
A alma chora.
O coração sangra.
A flor de laranjeira ficou
distante. Como distante diluiu-se
parte da memória.
Já não lembro o que ocorreu
antes da imagem de taças de champanhe
quebrando.
Por onde andei em semanas
depois da tua partida?
Os pés sujos, os chinelos rotos.
A barba comprida e o vazio
no lugar dos olhos
falam de coisas que desconheço.
Pó de estrada. Perfume de incenso.
Um bilhete com tinta desbotada
que não me atrevo a reler.
O ruído ensurdecedor de minhas dores
retornando, absurdamente, do passado.
Becos sem saída. Desertos incandescentes.
Só não esqueço do calor do teu corpo
e da taça de conhaque
nas noites frias ao pé da lareira.
Não lembro como cheguei aqui
neste mar imenso de tristeza,
nadando desesperadamente pelo caminho
que minha alma projeta no mar
em busca do teu encontro.
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 16/02/2012
Reeditado em 24/07/2014
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