QUANDO O TEMPO CALA, FALA.
O tempo é revestimento, é ungüento, é briguento,
faz estrepolias com a razão,
faz o lodo renascer feto,
faz o todo extirpar sua fé.
O tempo faz graça com a dor,
se embebeda com o suor que cai dos céus,
faz o medo correr assustado sem fim.
O tempo tem vértebras, tem âncoras, tem fechos,
é capaz de se esquivar dos ventos, é capaz de fugir de Deus,
se mostra mastro, se posta pasto, se cala, fala.
O tempo é algoz, é perdiz, é estuprador,
quando está pálido se encanta de luz,
quando enverga sua alma faz as fronhas virarem brasa,
quando cai em prantos faz o mundo gozar até se fartar.
O tempo não trai nem será traído,
vira cárie quando escorre pelas linhas da mão,
vira fardo quando se rasga feito enlouquecida meretriz,
vira adeus quando seu coração é abandonado num canto qualquer.
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