UM TEMPO
GILBERTO BRAZ ALMEIDA
Um tempo em que nada sobra,
que é sombra,
que é sede,
que é fome,
que também é progresso,
mas que é regresso
ao irracionalismo.
Um tempo em que nem tudo são trevas
que ainda há luz...
Um tempo que é comédia, tragédia,
que é o auge da filosofia,
supremacia das ciências,
e decadência dos religiosos.
Um tempo em que
mal reluz um fio de esperança.
já sopra os ventos das frustrações,
pois nas cartilhas
dos antigos coronéis
ainda rezam as novas raposas.
Um tempo,
tal qual nos velhos tempos,
em que ainda se varre
o lixo das ruas,
em que ainda se espana
a poeira dos cristais,
em que ainda se limpam
os cofres públicos,
em que ainda se apagam
as nódoas do poder.
Um tempo em que a poupança
dos nunca poupados
é como o pão que se multiplica faltando.
É coma a água que aumenta secando.