Poema triste

Às vezes penso que sinto

Em momentos encantados

Reflexos na água de um lago

Onde minha alma perdura

No poema que se despe

E se deita com a Eternidade

Dos versos caindo ao chão

Pressinto

Vozes no escuro

Uma palavra úmida de sono

A face molhada da poesia

Um doce olhar sem resposta

Refúgio da noite infinda

Cantiga de ninar

Melodia para os teus passos

Falseio emoções

Invento dores

Só para ver a poeisa irrevogavelmente nua

Cantar para os teus lábios de fogo

E me anular para o teu nome

Minto

Para que a estrela azul não acorde

E te beije noite após noite

Com a doçura do beijo tácito

Do amor sem conta

Com a irrealidade do sonho

Pálido sonho acordando

Destes que a gente cuida nem ter

Facetados caminhos de um mar

De uma concha encontrada na infância das águas

Praia sem mar, eco sem grito

Instantes dissolvidos no mergulho nestas nuvens

Breves mortes de espumas melancólicas

Antiquíssimas como as doutrinas inefáveis

Místicos ritos de expiação

Silêncio

Solidão

Tempos possíveis

Invisíveis vidas

Cheias de verdades e escárnio

Sem enigmas expressivos

Mistérios queimados nos fatos escusos do não

Fogo-de-santelmo bruxuleando na escuridão

Dos meus olhos

Das minhas mortes infindas

Da noite dilatada dissolvendo-se

Em circunscritos sonhos

Destes que choram

Destes que dormem nos jardins

Das noites que vêm com os vento

E tecem junto com os astros

Poemas

Alinhavados num papelico

Amarelados pelas sombras de um passado

Pingando gotas de saudade

Embriagados

Esquivos

Fugídios

Obscuros

Anjos morrendo

Tão tristes

Tão absolutamente tristes...

Como a tua ausência